segunda-feira, 24 de março de 2008

Retalho Perdido...

(...)

Tantos foram os momentos que aqueles olhos se fecharam tristes,
calados pela tua indiferença,
amedrontados diante dos limites do nosso jardim.
Tantos foram os dias que chorei sorrindo,
que gritei por socorro em silêncio.


Tantos foram os cenários que deixei pra trás,
que desconstruí com a tua ausência.
Tantas são as ruínas que encontro diante de mim,
fragmentos sem cores,
sem sentimentos.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Devaneios de um filme do Vinícius

Não existe lugar pra mim,
Não existe lugar para o que eu não sou,
muito menos para aquilo que sou ou “imagino” ser.
Não existe lugar algum que caiba tua ausência
nem tua abundância...
Triste, alegre e intenso é o sentimento que existe em mim,
que vivencio aqui ou ali, mas nunca no meu lugar.

Em lugares quaisquer
Sempre na espera incessante de te encontrar em algum corpo estranho
Em toques efêmeros de uma madrugada gelada de agosto
Tentando extrair aquilo me sufoca
Saciar minha fisiologia
E depois voltar a minha ilusão
Ao meu dês-lugar a minha des-existência

Minha auto-imagem tão bem lapidada
Em órbita dos outro.


(Ni e Didio)

Esse foi escrito por duas mãos, beijusss pro Didio, depois de assistir o filme sobre a vida de Vinicius de Moraes. Lembro que sai do cinema querendo amar e amar ... hehehhe
O desenho é de um artista muito bacana chamado J. Victtor que nasceu em Belo Horizonte em 1957 e vive no Rio de Janeiro. Quem quiser conferir mais dele vale a pena dar uma espiada www.jvicttor.com.br .


Cirandas...

Adultos querendo brincar de roda, resgatar os sentimentos mais felizes da infância, esquecer do tempo, das distâncias. As “Cirandas” foram escritas para um “amigo” muito especial que me visitava sempre, acho que eram as terças-feiras mas poderiam ser as quartas ou quintas, já nem lembro mais... Em uma dessas visitas assistimos “Last Tango in Paris” , eu amo o filme e acho fascinante como Bertolucci consegue livrar-se das máscaras, atingir nossos pensamentos mais insanos...

Quem me dera ter um apartamento vazio e um pote de manteiga ... hauhauhahau


Ciranda

Brincadeira de criança que nos prende,
Que alimenta a nossa carne,
Que leva e traz suas crianças no leva e traz dos nossos discursos preparados.

Brincadeira de criança que nos afasta do resto,
Que se alimenta dos nossos medos.

Cantiga de roda que embala corpos sedentos,
Encorajados pelo desejo do novo,
Pela curiosidade do que ainda será dito

Ciranda que gira nossos anseios,
Seduz com seu ritmo.
Ciranda que brinca com os sentimentos que ainda não temos,
E que conscientemente não deveríamos construir.

(21/08/2007 – Devaneios de um bolo com vinho.)


Ciranda II(Fim da canção)

A cantiga para,

O ritmo se desfaz,

E a melodia ecoa apenas nos meus pensamentos mais distantes.

Não te reconheço mais entre as crianças,
Não sinto mais a tua mão.

Perdemos-nos na ciranda e ela no tempo.
Perdemos.

A ciranda pára,
O sentimento se desfaz,
E a minha lembrança ecoa apenas nos teus pensamentos mais distantes.

Não te procuro mais entre as crianças,
Não tenho mais tua atenção.

Perdi-me na ciranda e ela no tempo,
Perdi.

(07/09/2007 – Devaneios de um sábado à noite)


“Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz.”


Deixa eu ser louca,

Desvairada,
Desequilibrada,
Insana.
Deixa eu beber até cair,
Até trocar as palavras,
Até perder os sentidos.
Deixa eu extravasar,
Sorrir,
Gritar.
Deixa eu aqui sozinha (às vezes),
Com minha solidão,
Com minha dor,
Com meus devaneios.

Deixa eu ser fora do padrão,
Do mundo,
Do contexto.
Deixa eu com meus amigos,
Com as pessoas que eu amo,
Com meus conceitos,
Com meu comportamento “sexual dançante”.
Deixa eu ficar aqui,
Ali,
Ou em qualquer lugar do meu pequeno universo.

Deixa eu ser feliz
Ficar contigo,
Te mostrar aquilo que acredito.
Deixa eu aprender ao seu lado,
Olhar pelo seu mundo.
Deixa eu te ouvir,
Te tocar,
Te sentir.

Deixa eu brincar antes que tudo acabe,
Antes que seja tarde,
Antes que me torne estranha,
Antes que “você” se apague,
Antes do fim.

Sim, eu estava escutando "Todo carnaval tem seu fim" do Los Hermanos e me sentindo estranhamente feliz. Ah, já estava esquecendo... existia um idiota muito especial nos meus pensamentos... huahauahu

Colcha de Retalhos




















Tenho saudades dos tempo de criança,
dos afagos que não tive,
do som distante das cantigas de roda.
Tenho saudades das manhãs frias,
inundadas pelo vento que passava nas frestas de nossa casa.

Tenho saudades das linhas que caiam da tua roupa,
do barulho constante da maquina de costura,
da fita métrica no teu pescoço.
Ainda lembro dos traços precisos da tua tesoura,
do modo que jogava as peças de tecidos sobre a mesa,
da caixinha de giz branco.

Por um instante parece que ainda posso te ouvir,
Posso te ouvir pedindo café,
Gritando meu nome as sete da manhã.
Por um instante ainda te escuto rindo,
de mim,
da tv,
do tempo.
Sempre rindo, sempre na mesma cadeira.
Por um instante penso nas lágrimas que nunca assisti...
Pra onde foram as tuas lágrimas?

Me perco em meio as ruínas de nossa casa,
em meio ao piso que nunca foi colocado na varanda.
Em meio as paredes de concreto, erguidas tão lentamente que nem lembro se chegaram ao fim.
Me perco entre as bananeiras do quintal e o pequeno pé de araça,
corro de pés descalços.
Tão distantes me pareciam os muros daquele quintal.

Lentamente as lembranças me trouxeram o sono,
me cubro,
e percebo que a minha colcha também é de retalhos.