quarta-feira, 19 de março de 2008

Colcha de Retalhos




















Tenho saudades dos tempo de criança,
dos afagos que não tive,
do som distante das cantigas de roda.
Tenho saudades das manhãs frias,
inundadas pelo vento que passava nas frestas de nossa casa.

Tenho saudades das linhas que caiam da tua roupa,
do barulho constante da maquina de costura,
da fita métrica no teu pescoço.
Ainda lembro dos traços precisos da tua tesoura,
do modo que jogava as peças de tecidos sobre a mesa,
da caixinha de giz branco.

Por um instante parece que ainda posso te ouvir,
Posso te ouvir pedindo café,
Gritando meu nome as sete da manhã.
Por um instante ainda te escuto rindo,
de mim,
da tv,
do tempo.
Sempre rindo, sempre na mesma cadeira.
Por um instante penso nas lágrimas que nunca assisti...
Pra onde foram as tuas lágrimas?

Me perco em meio as ruínas de nossa casa,
em meio ao piso que nunca foi colocado na varanda.
Em meio as paredes de concreto, erguidas tão lentamente que nem lembro se chegaram ao fim.
Me perco entre as bananeiras do quintal e o pequeno pé de araça,
corro de pés descalços.
Tão distantes me pareciam os muros daquele quintal.

Lentamente as lembranças me trouxeram o sono,
me cubro,
e percebo que a minha colcha também é de retalhos.

2 comentários:

Feliz Aniversário!!! disse...

Não poderias ter iniciado o blog de melhor maneira.
É lindo esse poema... como os outros, mas este não pode ser reinventado... não volta atrás.

Feliz Aniversário!!! disse...

... nem é cíclico... como as cirandas :)